• Tatiana de Mello Dias
Atualizado em
 (Foto: divulgação)

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Janet Vertesi, professora de sociologia da Universidade de Princeton, nos EUA, ficou grávida e se propôs um experimento: tentaria esconder, por nove meses, sua gestação na internet. E o resultado: não foi nada fácil (para não dizer impossível).

Mulheres grávidas são um ótimo público consumidor. Primeiro porque compram muito. Depois porque tomam decisões sobre produtos que provavelmente as tornarão fiéis a determinadas marcas. Por serem tão atrativas, também são caras: em média, os dados de marketing de uma pessoa comum custam US$ 0,10; os de uma grávida, US$ 1,50, segundo a pesquisadora. E é por isso que, uma vez localizado o alvo, os marqueteiros não o deixarão escapar.

Há dois anos, um pai americano foi revoltado à uma loja reclamar que sua filha, adolescente, estava recebendo cupons de desconto de produtos para bebê. Ele ficou indignado porque acreditou que os cupons seriam um estímulo a uma possível gravidez da filha. “Vocês estão tentando encorajá-la a ficar grávida?”, ele perguntou. Só não esperava a resposta: ela já estava esperando um bebê. Mecanismos de publicidade online já haviam a identificado como um alvo potencialmente lucrativo - e perceberam a gestação antes mesmo do avô.

Janet tentou passar a gestação livre desse tipo de rastreamento e apresentou os resultados de seus nove meses (a pesquisa, é claro, não seu filho) na semana passada em uma conferência nos EUA. “A minha história é sobre big data, mas de baixo para cima, de uma perspectiva muito pessoal sobre o que é necessário para evitar coleta de dados, ser rastreado e ser colocado em um banco de dados.”

Como navegar na rede sem dar pistas de que você está esperando um bebê? Se esconder a notícia da família, amigos e colegas de trabalho já é complicado, omitir qualquer menção a isso para o Google é mais difícil ainda. A primeira coisa que Janet fez foi se certificar que não tocasse no assunto em nenhuma rede social. A notícia foi dada à família e aos amigos com um e-mail e telefonemas - e eles foram alertados para que não publicassem nada nas redes sociais. E ela foi radical: um tio não cumpriu o combinado e tomou unfriend.

Outra medida: ela só usou dinheiro para pagar as compras relacionadas à gravidez. Desta forma, seus dados não seriam compartilhados por operadoras de cartões de crédito. Até as compras na Amazon ela deu um jeito de contornar o sistema: ela criou uma conta ligada a um e-mail de um servidor pessoal, mandou entregarem os pacotes em um serviço de armazenamento e só usou vales-presente comprados com dinheiro. Ufa.

E, por fim, ela apelou à deep web. Nada de mercado ilegal, drogas ou serviços escusos: Janet usou o Tor para acessar o Babycenter, um dos maiores portais do mundo sobre gravidez e filhos. (Quando ela falou isso, arrancou gargalhadas.)

Foi quase impossível fugir do rastreamento. Além do trabalho, tentar esconder a gravidez lhe rendeu situações desagradáveis: seu marido, por exemplo, foi denunciado por tentar comprar um vale-presente no valor de US$ 500 em dinheiro na Amazon.

Saldo final: Janet disse que é preciso estar mais atento em relação às informações que nós fornecemos voluntariamente. E se pergunta se, um dia, nós poderemos simplesmente optar por não fornecermos essas informações à internet - e, consequentemente, ao mercado publicitário. Muita gente acredita que não.